Desafios e inovações no tratamento da Doença de Parkinson no Brasil: um olhar atual e futuro

Abr 11, 2025 - 13:00
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Desafios e inovações no tratamento da Doença de Parkinson no Brasil: um olhar atual e futuro


A Doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa crônica e multissistêmica, cujo diagnóstico se baseia em sinais motores, como lentidão de movimentos, tremores e rigidez, além de afetar outros sistemas. No Brasil, a doença vem ganhando crescente atenção tanto pelo aumento de sua prevalência, à medida que a população envelhece, quanto por suas implicações sociais e econômicas.

A importância da condição em território nacional está ligada a vários fatores. Primeiramente, o envelhecimento acelerado da população brasileira tem aumentado a incidência de doenças neurodegenerativas. De acordo com uma meta-análise de Dani J. Kim e colaboradores, que analisou estudos de 13 países da América Latina, a prevalência da Doença de Parkinson foi estimada em 472 casos por 100.000 habitantes, com uma incidência de 31 casos por 100.000 pessoas-ano¹. No contexto brasileiro, o Estudo Bambuí apontou uma prevalência de 3,3% entre indivíduos com 64 anos ou mais².

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Apesar de não haver cura ou tratamentos que modifiquem a evolução da doença, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Contudo, o acesso a esses serviços ainda é desigual, e a carga econômica da Doença de Parkinson sobre o sistema de saúde e a sociedade geral é significativa. Os custos com tratamento médico, medicações, reabilitação e cuidados de longo prazo são elevados.

Segundo o estudo de Bovolenta e colaboradores, o custo anual médio para pacientes no Brasil é de aproximadamente US$ 4.020,48, considerando-se custos diretos e indiretos, que representam, respectivamente, 63% e 36% do total. Os custos diretos incluem despesas médicas e não médicas, enquanto os custos indiretos estão relacionados à perda de produtividade e outras despesas não associadas diretamente ao tratamento³.

Avanços terapêuticos e o impacto da levodopa

Ainda que os desafios sociais e epidemiológicos associados à doença sejam muitos, nas últimas décadas o tratamento farmacológico tem experimentado inovações promissoras. A partir do desenvolvimento da levodopa, na década de 1960, observou-se uma revolução no tratamento dos sintomas motores, trazendo significativa melhora na qualidade de vida e produtividade dos pacientes. Diversas classes de medicamentos foram desenvolvidas desde então, parte delas já disponível gratuitamente no Brasil. No entanto, com o avanço da doença, mesmo tratamentos sintomáticos adequados muitas vezes não impedem danos significativos à qualidade de vida dos pacientes.

Terapias avançadas e os próximos passos no combate ao Parkinson

Frente a esse cenário, há 30 anos iniciaram-se estudos sobre terapias avançadas para complementar os tratamentos existentes. A partir da década de 1990, começaram as cirurgias para Estímulo Cerebral Profundo (ECP): um procedimento que envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro, conectados a um gerador implantado no tórax. Esse dispositivo envia impulsos elétricos que ajudam a reduzir os sintomas do Parkinson.

A introdução da ECP marcou uma revolução no tratamento de casos avançados da doença. Esta terapia, já disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde brasileiro, oferece uma alternativa eficaz para lidar com flutuações motoras e sintomas refratários, comuns após longos períodos da enfermidade. Esse tratamento trouxe uma nova perspectiva sobre a integração de intervenções neurocirúrgicas no manejo de condições neurodegenerativas, abrindo caminho para futuros desenvolvimentos.

Apesar de muitos avanços no tratamento sintomático da Doença de Parkinson, ainda existem grandes desafios. Conforme aumenta a expectativa de vida dos pacientes com Parkinson, surgem sintomas axiais relacionados especialmente à marcha e ao equilíbrio, assim como sintomas não motores refratários aos tratamentos hoje disponíveis na prática clínica. Além disso, apesar das várias pesquisas realizadas no  mundo todo, ainda não foram desenvolvidos tratamentos farmacológicos que proporcionem cura ou modifiquem o processo de neurodegeneração.

A Doença de Parkinson, como outras condições neurodegenerativas e relacionadas ao envelhecimento, representa um grande desafio para a saúde pública no Brasil. É crucial desenvolver políticas que priorizem o diagnóstico precoce, garantam o amplo acesso a tratamentos adequados — incluindo medicamentos e terapias avançadas — e ofereçam apoio social aos pacientes. Ademais, investir na educação sobre a doença e fortalecer o acompanhamento multidisciplinar são passos essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir o impacto da doença no país.

*Por Augusto Coelho – CRM 194.574 / RQE 91896
Neurologista
Diretor clínico da Associação Brasil Parkinson, neurologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP). Especialista em Distúrbios do Movimento pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP)


Referências
  1. Prevalence and Incidence of Parkinson’s Disease in Latin America: A Meta-Analysis.
Kim DJ, Isidro-Pérez AL, Doering M, et al. Movement Disorders: Official Journal of the Movement Disorder Society. 2024;39(1):105-118. doi:10.1002/mds.29682.
  1. Parkinsonism and Parkinson’s Disease in the Elderly: A Community-Based Survey in Brazil (The Bambuí Study).
Barbosa MT, Caramelli P, Maia DP, et al. Movement Disorders: Official Journal of the Movement Disorder Society. 2006;21(6):800-808. doi:10.1002/mds.20806.
  1. Average Annual Cost of Parkinson’s Disease in a Brazilian Multiethnic Population.
Bovolenta TM, Schumacher-Schuh AF, Santos-Lobato BLD, et al. Parkinsonism & Related Disorders. 2023;117:105897. doi:10.1016/j.parkreldis.2023.105897.

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