Não é uma situação confortável, diz Maeve Jinkings sobre personagem lésbica em 'Vale Tudo'

Abr 7, 2025 - 23:00
 0
Não é uma situação confortável, diz Maeve Jinkings sobre personagem lésbica em 'Vale Tudo'

ANA CORA LIMA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Maeve Jinkings não fez testes para o remake de "Vale Tudo". Ela foi convidada pela autora Manuela Dias e pelo diretor Paulo Silvestrini para interpretar Cecília Catanhede, irmã do vilão Marco Aurélio (Alexandre Nero). A primeira informação que recebeu foi que, ao contrário da versão original, sua personagem não morreria no início da novela, dando continuidade à ideia concebida por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988: jogar luz sobre as relações homoafetivas.

 

Cecília vive um casamento feliz com com Laís (Lorena Lima), e elas adotarão uma criança. "Achei incrível, porque há uma importância política nessa afirmação de a personagem seguir na narrativa, né?", diz, para logo completar: "Se você olhar o arco da história e das representações da comunidade LGBTQIA+ nas narrativas de ficção, a morte desses personagens era -e ainda é- muito comum. Estamos lutando um pouco contra isso".

Na primeira versão, a trama da advogada engajada na defesa do meio ambiente, interpretada por Lala Deheinzelin, que também dividia a administração de uma pousada em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, com sua esposa, Laís (Cristina Prochaska), sofreu com cortes da ditadura militar.

A "Vale Tudo" original foi a última novela das 21h da Globo a ter seu texto submetido ao crivo da Divisão de Censura de Diversões Públicas. Segundo o jornalista Mauricio Stycer, colunista da Folha, a morte de Cecília estava prevista no roteiro original porque Gilberto Braga queria usar o acontecimento para discutir o direito de herança entre homossexuais.

Maeve lembra ter assistido à primeira versão de Vale Tudo aos 12 anos e decidiu rever a novela. "É um clássico, né? Os diálogos são fortes e ela merecia ser remontada com essas atualizações históricas, tecnológicas, éticas, morais e políticas", explica a atriz, que considera Cecília a personagem mais parecida com ela. "Ela doce e forte ao mesmo tempo e tem a questão da ética, honestidade como nortes".

A atriz é bissexual e namora a cineasta Carolina Marcowicks desde 2022. "Olha não acho que seja uma situação confortável (interpretar também uma representante da comunidade LGBTQIA+). Acho que o princípio do ator é exatamente ser oposto do personagem para poder fazer o exercício do encontro do outro. Esse é o grande barato da atuação", explica Maeve. "Mas, eu entendo que exista uma luta e como muitas pessoas acabam sendo marginalizadas no mercado, é importante representar a nossa própria comunidade. Então tudo bem", completa.

Para Maeve, essa experiência na novela das 21h na Globo será uma chance de "sair da bolha" em que vive. Segundo ela, apesar de ter acolhimento entra familiares e amigos, existe outra a realidade para muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+.

"A gente não pode esquecer que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. Vivo em uma pequena bolha, porque a comunidade do meu trabalho me acolhe, a minha família me acolhe, a família da minha namorada acolhe e isso não acontece para muitos dos meus e das minhas".

Qual é a sua reação?

Como Como 0
Não gosto Não gosto 0
Amor Amor 0
Engraçado Engraçado 0
Bravo Bravo 0
Triste Triste 0
Uau Uau 0
Equipe Noticiar Noticiar: Notícias Online em Tempo Real do Brasil e do Mundo!