Seleção em crise, troca de técnicos e disputas judiciais marcam primeira gestão de Ednaldo na CBF

(FOLHAPRESS) - O baiano Ednaldo Rodrigues, 71, caminha para seu segundo mandato à frente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) até 2030 com uma gestão marcada por resultados fracos da seleção dentro de campo, trocas de técnicos e disputas jurídicas nos bastidores, mas com o amplo apoio de clubes e federações.
Sem concorrentes -Ronaldo até tentou, mas desistiu da candidatura ao se deparar com a falta de apoio-, Ednaldo deve ser reconduzido ao cargo na eleição marcada para esta segunda-feira (24) na sede da entidade, no Rio de Janeiro, prevista para começar às 10h30 (horário de Brasília).
Presidente da Federação Baiana de Futebol por quase duas décadas, o cartola assumiu a presidência da CBF pela primeira vez em agosto de 2021 de forma interina, após o afastamento de Rogério Caboclo. Foi eleito para o primeiro mandato em chapa única, em março de 2022.
À época sob o comando de Tite, a seleção chegou a ter bons resultados no período, com aproveitamento de mais de 80% e apenas uma derrota, mas o empate com a Croácia culminou na eliminação na Copa do Qatar, nos pênaltis.
Com a nova queda nas quartas de final do Mundial, Tite deixou o cargo, e a procura por um novo técnico gerou o primeiro desgaste ao presidente da CBF.
Em busca de um nome de peso para comandar a equipe, Ednaldo chegou a indicar a contratação do italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, mas para somente dali a um ano, em meados de 2024.
Nesse meio tempo, Ramon Menezes, emprestado da seleção Sub-20, e Fernando Diniz, dividido com o Fluminense, assumiram interinamente, sem conseguir entregar os resultados esperados. Com a dupla, o time acumulou cinco derrotas, três vitórias e um empate, com aproveitamento de apenas 37%, um dos piores da história.
Pressionado pela falta de resultados dentro de campo, que também contou com a não classificação da seleção masculina para os Jogos de Paris, Ednaldo ainda teve de lidar com uma disputa na Justiça pelo comando da entidade.
Em dezembro de 2023, ele foi afastado por decisão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), pelo entendimento de que um acordo firmado entre a CBF e o MPF (Ministério Público Federal), que abriu caminho para sua eleição, era ilegal. Após uma série de idas e vindas nos tribunais, o dirigente foi reconduzido ao cargo em janeiro de 2024, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Tão logo retomou o assento, a primeira decisão foi demitir Fernando Diniz. Com Ancelotti renovando com o Real Madrid e a pressão por um nome em definitivo, Ednaldo acertou com Dorival Júnior nos primeiros dias de 2024 para conduzir o Brasil até a Copa.
Com dificuldades da equipe em encontrar a formação ideal sem Neymar, o ano de 2025 será importante para que o presidente da CBF possa avaliar a permanência da atual comissão técnica até 2026.
Na semana passada, em meio aos preparativos para duelos importantes da equipe no caminho até o Mundial, contra Colômbia e Argentina, Ednaldo convocou as eleições da entidade para esta segunda-feira.
O processo foi mera formalização para a recondução ao cargo -sua chapa "Por um Futebol Mais Inclusivo e Sem Discriminação de Qualquer Natureza" foi a única registrada para o pleito, contando com o apoio de 27 federações e 13 clubes da Série A e 13 da Série B.
Da Série A, a chapa foi assinada por Palmeiras, São Paulo, Internacional, Grêmio, Juventude, Atlético-MG, Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Bahia, Sport, Vitória e Ceará. Na Série B, Ednaldo teve o apoio de Atlético-GO, América-MG, Athletic-MG, Amazonas, Avaí, Chapecoense, Criciúma, CRB, Botafogo-SP, Goiás, Novorizontino-SP, Operário/PR e Volta Redonda-RJ.
"A gente vai procurar fazer um mandato que busque cada vez mais o fomento do futebol brasileiro, lutando pela purificação desse futebol e pela inclusão social e principalmente no combate ao racismo e a todo tipo de discriminação", disse Ednaldo.
O ex-jogador Ronaldo Nazário chegou a anunciar sua candidatura, mas não encontrou respaldo para seguir com a empreitada. Segundo ele, das 27 federações procuradas, encontrou 23 portas fechadas.
"Sabemos que a CBF vem, historicamente, de processos complicados em termos de gestão. E mal ou bem, com todas as nuances jurídicas que aconteceram, o presidente Ednaldo tem buscado a manutenção de uma gestão que se afaste dos temas que vinham no âmbito anterior", afirmou o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos.
"Ainda há muita coisa a melhorar, mas olhando o processo todo que antecede a eleição, percebemos certa incapacidade de articulações que pudessem trazer um norte, um rumo totalmente diferente. O presidente Ednaldo vem mantendo uma interlocução com os clubes, as federações. É um presidente bastante acessível", disse o dirigente colorado.
CEO da SAF do Botafogo, John Textor também manifestou publicamente seu apoio à reeleição. Ednaldo chegou a processar Textor em 2023 por acusações de manipulação no futebol brasileiro sem provas. Agora, em nota na qual declarou seu apoio à reeleição, o americano disse que, ao conhecer melhor o presidente da CBF, percebeu que "muitas de suas visões coincidem com nossas ideias e ambições no Botafogo."
"Estou feliz em informar que a mudança pode vir de dentro, e essa mudança certamente está chegando à CBF, para o benefício de todos nós que amamos o futebol do Brasil", disse Textor.
Ednaldo assume o segundo mandato com o compromisso assumido junto aos clubes de maior transparência e participação na gestão e de apoio à criação de uma liga do futebol brasileiro.
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APROVEITAMENTO DA SELEÇÃO BRASILEIRA NA GESTÃO EDNALDO RODRIGUES
A partir de ago.2021 (Tite)
5 vitórias, 2 empates (aproveitamento de 81%)
2022 (Tite)
10 vitórias, 2 empates*, 1 derrota (aproveitamento de 82%)
*empate com a Croácia na Copa do Mundo no tempo normal; eliminação nos pênaltis
2023 (Ramon Menezes/Fernando Diniz)
3 vitórias, 1 empate, 5 derrotas (aproveitamento de 37%)
2024 (Dorival Júnior)
6 vitórias, 7 empates, 1 derrota (aproveitamento de 59,5%)
2025 (Dorival Júnior)
1 vitória (aproveitamento de 100%)
Total
25 vitórias, 12 empates, 7 derrotas (aproveitamento de 66%)
RAIO-X | EDNALDO RODRIGUES, 71
1954, Vitória da Conquista (BA). Presidente da CBF desde agosto de 2021, é o primeiro negro e nordestino no cargo. Comandou por quase duas décadas a Federação Baiana de Futebol. Foi vice-presidente da CBF entre 2018 e 2021.
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