Trump demite chefe de base na Groenlândia após críticas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo Donald Trump demitiu a comandante da base militar dos Estados Unidos na Groenlândia depois que a militar enviou um e-mail discordando das pretensões do presidente, que já disse que vai tomar a ilha da Dinamarca "de um jeito ou de outro".
A demissão da coronel Susannah Meyers foi confirmada pela Força Espacial dos EUA na quinta (10) à noite. "Espera-se que os comandantes sigam os mais altos padrões de conduta, especialmente no que diz respeito a serem imparciais no desempenho de suas funções", diz a nota.
No dia 28 de março, o vice-presidente J.D. Vance fez uma visita à base de Pituffik, que ela comandava, como parte de uma visita em meio à campanha de Trump para conquistar a Groenlândia.
No dia 31, Meyers enviou um e-mail para os cerca de 150 militares e outros funcionários, muitos groenlandeses e dinamarqueses, que trabalham no local.
"Não pretendo entender a política atual, mas o que sei é que as preocupações do governo dos EUA, discutidas pelo vice-presidente Vance na sexta-feira, não refletem a realidade da Base Espacial de Pituffik", disse ela. O texto foi divulgado na quinta pelo site especializado Military.com.
Segundo o veículo, o objetivo relatado de Meyers era o de manter a coesão entre os americanos e seus colegas de outas nacionalidades na base. Por óbvio, o Pentágono não gostou. O destino da militar, que estava no posto desde julho passado, não ficou claro.
O episódio se soma à novela de erros da visita de Vance, que provou-se um desastre diplomático. A comitiva prévia americana não conseguiu localizar nenhuma família que aceitasse receber a mulher do vice, Usha, para uma fotografia de ocasião. Agendas sociais, como assistir a uma corrida de cachorros, foram canceladas, e ao fim só sobrou a visita a Pituffik.
A base é operada pelos EUA desde os anos 1940 e na Guerra Fria ganhou a importância estratégica vital que tem até hoje. Nela há radares, sensores e comando de redes de satélite que visam identificar lançamentos de mísseis balísticos da Rússia ou da China -o caminho pelo polo Norte é o mais curto para tal tipo de ataque.
Já no seu primeiro mandato, Trump havia sugerido comprar a ilha, que é um território semiautônomo da Dinamarca, aliada dos EUA no clube militar Otan, sem sucesso. Voltou à carga com tudo, colocando o local na lista de suas obsessões, ao lado da retomada do canal do Panamá e da pressão sobre o Canadá.
A investida americana reforçou o movimento nacionalista da ilha, que busca a independência da Dinamarca, algo a que o reino europeu não se opõe de forma explícita. Dois dias antes da visita de Vance, Trump havia dito que tomaria a Groenlândia "de qualquer jeito".
Após o fracasso da viagem, o secretário de Estado, Marco Rubio, encontrou-se com seu par dinamarquês e tentou colocar panos quentes, dizendo que os EUA iriam "respeitar a autodeterminação da Groenlândia" -ao menos segundo o relato de Lars Lokke Rasmussen.
Isso dito, o desejo americano pela Groenlândia é antigo. Em 1867 o país propôs comprar a ilha e a Islândia, além de anexar o Canadá. Não funcionou, mas Washington acabou por invadir a Groenlândia em 1941, para evitar que os nazistas a militarizassem -Adolf Hitler havia tomado a Dinamarca no ano anterior.
Em 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Casa Branca ofereceu à coroa dinamarquesa US$ 100 milhões pela ilha, equivalentes hoje a US$ 1,6 bilhão. A ideia foi rejeitada, mas a presença militar continuou por lá, sendo referendada no âmbito da Otan, criada três anos depois.
Trump tem interesses adicionais. O derretimento da calota de gelo da ilha, ainda que o americano passe por negacionista climático, pode gerar negócios minerais que interessam aos EUA. A Groenlândia é rica em terras-raras, vitais para a indústria eletrônica, além de outros elementos.
A movimentação americana não passou despercebida em Moscou. Vladimir Putin tem dito que o Ártico é vital para os interesses russos, e lançou um novo submarino nuclear pessoalmente na região.
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