James Webb detecta clima extremo em planeta raro do tamanho de Netuno

Um estudo publicado na revista Nature Astronomy revela novas descobertas sobre a atmosfera do exoplaneta LTT 9779 b, também conhecido como Cuancoá. Usando o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, os autores conseguiram estudar esse mundo, que é semelhante a Netuno – porém com características bem peculiares.
Descoberto em 2020, Cuancoá tem 29 vezes a massa da Terra e orbita sua estrela em apenas 19 horas, o que o coloca em uma categoria rara, com poucos exemplos conhecidos, chamada “Deserto de Netunos Quentes” (planetas com o tamanho e a massa de Netuno, mas com um período de menos de quatro dias ao redor de suas estrelas).
Com temperaturas extremas de até 2.000°C em seu lado diurno, o LTT 9779 b oferece uma janela única para entender a evolução de planetas em condições tão extremas. Em um comunicado, Louis-Philippe Coulombe, estudante de pós-graduação da Université de Montréal, no Canadá, comparou a descoberta a encontrar algo inesperado em um ambiente hostil, “como uma bola de neve que não derrete em um incêndio”.
O estudo dessa diversidade de sistemas planetários pode oferecer insights valiosos sobre a formação e evolução de mundos semelhantes.
Instrumento do James Webb enxerga luz invisível ao olho humano
Para essa pesquisa, a equipe utilizou o modo Espectroscopia Sem Fenda de Objeto Único (SOSS) do Webb, que detecta radiação no infravermelho próximo, uma faixa de luz invisível ao olho humano. Essa tecnologia é especialmente útil para analisar atmosferas de exoplanetas, permitindo aos cientistas detectar detalhes antes inacessíveis. Ao observar o LTT 9779 b, os pesquisadores conseguiram identificar vapor d’água e estudar a luz refletida pelas nuvens presentes no planeta, formadas em sua face exposta ao dia.
Devido à rotação bloqueada por maré, um dos lados do LTT 9779 b está constantemente voltado para sua estrela, enquanto o outro se mantém na escuridão permanente. Isso cria um grande contraste térmico entre os dois lados do planeta, com a face diurna experimentando temperaturas escaldantes. Esse fenômeno gera uma circulação atmosférica peculiar, em que o ar quente sobe no lado iluminado e o ar mais frio desce no lado noturno, criando correntes de convecção e influenciando o clima do planeta.
As descobertas indicam que a alta refletividade de LTT 9779 b, provavelmente devido à presença de nuvens espessas, tem impacto na sua distribuição de energia. As nuvens, formadas devido à diferença de temperatura entre os lados diurno e noturno, ajudam a refletir parte da luz estelar, o que pode afetar a dinâmica atmosférica e os padrões climáticos do exoplaneta.
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Hubble vai ajudar a investigar planeta raro
A pesquisa também revelou a presença de vapor d’água, confirmando que a atmosfera do LTT 9779 b é complexa o suficiente para que cientistas estudem não apenas sua composição, mas também os efeitos de suas condições extremas. A equipe continua a refinar seus modelos e utilizar observações adicionais, como as do Telescópio Espacial Hubble, para entender melhor como as nuvens se formam e persistem em um ambiente tão hostil.
Com o progresso das observações, os cientistas esperam descobrir mais sobre a dinâmica atmosférica de planetas como o LTT 9779 b. Esse estudo é uma etapa importante para entender melhor a evolução de planetas em zonas de alta radiação, como as que existem em torno de estrelas semelhantes ao Sol.
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