Paulo Machado de Carvalho evitou clima de ‘já ganhou’ para conquistar a Copa

Agosto 18, 2025 - 10:25
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Paulo Machado de Carvalho evitou clima de ‘já ganhou’ para conquistar a Copa


Ele observava em silêncio aquela balbúrdia. Era sábado, 15 de julho de 1950. No dia seguinte, a seleção brasileira enfrentaria o Uruguai em busca do inédito título mundial de futebol. Provavelmente vestido com um terno marrom, pois usava a cor por superstição, o empresário de comunicação estava acompanhado de dois filhos, Paulinho e Tuta, e de dois profissionais da Rádio Panamericana de São Paulo: Geraldo José de Almeida e Estevam Sangirardi. A concentração do Brasil, no estádio São Januário, no Rio de Janeiro, tinha virado um inferno: dirigentes, empresários, políticos e até padres queriam saudar os futuros campeões. Os jogadores não tinham paz. A equipe começou a Copa concentrada em uma casa isolada na Barra da Tijuca, mas foi para São Januário, campo do Vasco da Gama, nos dias decisivos.

Com os óculos que se destacavam em seu rosto redondo, estatura mediana e calvície protuberante, Paulo Machado de Carvalho puxou de canto o técnico da seleção brasileira, Flávio Costa, e disparou: “Flávio, o negócio vai mal. A cada dois minutos vem um sujeito com um lencinho na mão com os dizeres ‘Brasil Campeão’. Aí chega outro com uma medalhinha ‘Esse é nosso’. Depois vem outro com uma faixa, etc, e tal…Eu acho que não é bem assim”.

O empresário paulista, ligado ao São Paulo Futebol Clube, sabia que o clima de “já ganhou” condenaria a seleção brasileira. Talvez ele fosse, naquele momento, o único torcedor nacional que não acreditava no título. O homem que ficaria conhecido como “Marechal da Vitória”, oito anos depois da fatídica derrota para o Uruguai, em pleno Maracanã, estava coberto de razão. 

Obcecado, perfeccionista e supersticioso eram características marcantes daquele que foi o responsável por elaborar o plano que resultou no bicampeonato mundial da seleção em 1958 e 1962. Paulo Machado de Carvalho quebrou barreiras, enfrentou resistências, desconfianças e ataques da imprensa, em meio a um fogo cruzado de dirigentes de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas, no fim das contas, provou para o mundo do futebol que suas convicções estavam corretas. 

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A preparação brasileira foi inédita e revolucionou conceitos do futebol. Depois da vitória da seleção contra a França, pela semifinal, no dia 24 de junho de 1958, em Estocolmo, mesmo local da finalíssima contra a Suécia, cinco dias depois, Paulo Machado de Carvalho quis, a todo custo, evitar o clima de “já ganhou”. Ele decidiu que os jogadores voltariam para a concentração em Hindas, perto de Gotemburgo. O retorno para a capital sueca só ocorreu na tarde de 28 de junho, sábado, véspera da decisão da Copa. Com menos pressão da torcida e da imprensa, a equipe nacional venceu os donos da casa por 5 a 2 e conquistou o mundo pela primeira vez. Ele foi um dirigente único e que soube tirar lições da derrota. 

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